Afroturismo em ação: trajetórias dos guias negros que resgatam nossa história
Carol Oliver • 22 de julho de 2025
Roteiros de resistência: os caminhos traçados por guias negros no afroturismo
Por muito tempo, o turismo no Brasil ignorou as histórias, vozes e territórios negros. Mas hoje, cada vez mais, guias turísticos negros estão assumindo o protagonismo na condução de experiências que valorizam a ancestralidade, resgatam memórias e transformam o ato de viajar em um mergulho identitário e político.
Esses profissionais não apenas apresentam paisagens e monumentos. Eles recontam a história a partir de outra perspectiva. Uma perspectiva que revela o que foi apagado, silenciado ou distorcido, e que honra os passos de quem resistiu e construiu as bases culturais do país.
Na Diaspora.Black, temos orgulho de caminhar ao lado de guias que atuam em quilombos, centros históricos e territórios de resistência em todo o Brasil. São mulheres e homens negros que fazem do afroturismo uma ferramenta de empoderamento, educação e valorização da cultura afro-brasileira.
A seguir, conheça a trajetória da Damiana Silva, da Florencios Tours & Travel, e descubra como sua experiência está ajudando a reescrever o turismo no país.

DIASPORA.BLACK: Como começou sua trajetória como guia turístico? O que te motivou a atuar com roteiros voltados à história e cultura negra?
DAMIANA SILVA | FLORENCIOS TOURS & TRAVEL:
Minha trajetória como guia turística começou em 1994, há mais de 30 anos, em um cenário onde a representatividade negra no turismo era praticamente inexistente. Trabalhei por muito tempo para grandes operadoras no Rio de Janeiro, conduzindo grupos nacionais e internacionais pelos roteiros tradicionais da cidade.
Mas, com o passar dos anos, senti um chamado mais profundo — algo que ia além de apresentar paisagens: o desejo de contar a nossa própria história com verdade, dignidade e profundidade.
O que me motivou a criar roteiros voltados à história e cultura negra foi perceber o silenciamento
das vozes negras nos circuitos turísticos convencionais. Além disso, algo sempre me incomodou profundamente: a forma como o Rio de Janeiro era preterido por Salvador quando se tratava de afroturismo — na época ainda denominado “turismo étnico.”
Grupos afro-americanos que eu recepcionava passavam pouquíssimas noites no Rio, enquanto permaneciam o dobro ou o triplo do tempo em Salvador. Isso me entristecia — sentia que o Rio decepcionava nesse aspecto, não por falta de história, mas por falta de reconhecimento e visibilidade.
Foi então que decidi criar experiências onde nossas memórias fossem valorizadas, onde o povo negro pudesse se ver, se reconhecer e se entender como parte de uma história atlântica afro-diaspórica que também pulsa forte no Rio de Janeiro.
DIASPORA.BLACK:
Quais territórios ou experiências você conduz atualmente?
DAMIANA SILVA | FLORENCIOS TOURS & TRAVEL:
Hoje, conduzo experiências diversas pelo Rio de Janeiro, sempre a partir de uma perspectiva
afrocentrada, que ressignifica a cidade e convida os visitantes a enxergarem o Rio para além dos cartões-postais. Nosso diferencial está justamente nisso: apresentar o Rio de Janeiro sob uma visão afroreferenciada, verdadeira e comprometida com a memória da diáspora africana.
Nosso principal produto é o Rio Little Africa Tour, um walking tour com cerca de 4 horas de duração pela região portuária, historicamente conhecida como Pequena África
desde o século XX. Esse roteiro é um dos mais bem avaliados nas plataformas internacionais como TripAdvisor
e Viator, com o selo de excelência concedido pelos próprios viajantes.
Durante o tour, visitamos entorno de sete marcos fundamentais para a história e o legado africano no Brasil entre eles: O Cais do Valongo (Patrimônio Mundial pela UNESCO), O Instituto Pretos Novos (IPN), A Pedra do Sal, O MUHCAB (Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira), As Docas
Pedro II, e Monunmento a Mercedes Batista (Largo da Prainha).
Cada uma dessas paradas guarda memórias vivas de dor, resistência, fé, resiliência, sobrevivência e celebração. São territórios que revelam o que a história oficial tentou apagar, mas que a oralidade, a presença negra e o afroturismo vêm restaurando com dignidade e potência.
Na Florencios, acreditamos profundamente que o afroturismo é uma ferramenta poderosa para a valorização da cultura negra, a promoção do respeito e a reconstrução da autoestima coletiva. ais do que roteiros turísticos, oferecemos encontros com a ancestralidade, com a história, com a
verdade — e com o povo, o verdadeiro coração do Rio de Janeiro.
DIASPORA.BLACK:
O que significa para você ser uma guia negra em territórios de resistência e ancestralidade? Como você se sente ao compartilhar essas histórias com os visitantes?
DAMIANA SILVA | FLORENCIOS TOURS & TRAVEL: É um ato de afirmação, de cura e de responsabilidade ancestral. Ser uma guia negra nesses
territórios vai muito além de um trabalho — é um chamado. É um compromisso com aqueles que vieram antes de mim e não puderam contar suas próprias histórias, mas cujas vozes ainda ecoam em cada esquina da Pequena África.
Ao compartilhar essas memórias, sinto que estou reconstruindo pontes entre o passado e o presente, oferecendo não só informação, mas acolhimento e pertencimento. Para muitos visitantes — especialmente os negros — é uma chance de se reconhecerem, se reconectarem e se
orgulharem da sua herança diaspórica.
É emocionante ver nos olhos deles aquele brilho que diz: “essa história também é minha”. E, nesse momento, eu sei: não estamos apenas guiando turistas — estamos guiando almas de volta para casa.
DIASPORA.BLACK:
Você se lembra de alguma experiência marcante com um grupo ou visitante durante os roteiros? Algum momento que te emocionou ou te fez perceber o impacto do seu trabalho?
DAMIANA SILVA | FLORENCIOS TOURS & TRAVEL:
Há muitos momentos que me marcam profundamente. Alguns visitantes se emocionam ao tocar o solo do Cais do Valongo e dizem, com lágrimas nos olhos, que ali sentiram, pela primeira vez, que haviam reencontrado seus ancestrais. Outros formam um círculo espontâneo ao redor da cova rasa com ossos calcificados no IPN e, de mãos dadas, fazem uma oração carregada de emoção, respeito e silêncio reverente.
Mas há um momento, em especial, que sempre me emociona — toda vez. É quando leio, traduzindo para o inglês, em voz alta, o trecho da escritora Carolina Maria de Jesus, gravado no alto da parede do setor arqueológico do IPN. Ali, ela descreve o 13 de maio de 1958. Um dia que, teoricamente, deveria celebrar a abolição da escravidão. No entanto, Carolina, quase 70 anos após esse marco, relata que só tinha feijão e sal para dar aos filhos. Que ela — e toda a população afrodescendente — vivia uma nova escravidão: “a escravidão chamada fome.”
Nesse instante, o silêncio entre o grupo é absoluto. As palavras de Carolina ecoam como um grito abafado da história. É impossível não lembrar de Elza Soares, e de toda uma geração de brasileiros negros renegados à miséria, à invisibilidade, à chamada "Democracia Racial" — que, na prática,
nunca existiu.
É nesse momento que tudo faz sentido. Ali, percebo com ainda mais força que o que oferecemos não é apenas um tour — é uma jornada de reconexão, de memória e de reflexão histórica. É dar voz às verdades que por tanto tempo foram silenciadas. E é por isso que sigo fazendo o que faço, com alma e propósito.
DIASPORA.BLACK:
Quais são os principais desafios de conduzir roteiros afrocentrados? E quais são as maiores conquistas e alegrias que esse trabalho te proporciona?
DAMIANA SILVA | FLORENCIOS TOURS & TRAVEL:
Os desafios são muitos — e profundos. Ainda enfrentamos a desvalorização institucional e a
ausência de políticas públicas consistentes que reconheçam o afroturismo como uma ferramenta potente de educação, geração de renda e transformação social. É verdade que passos importantes estão sendo dados, com iniciativas da Embratur, SEBRAE e outras instituições, mas ainda estamos apenas no começo de um caminho que precisa ser fortalecido.
Também lidamos diariamente com olhares enviesados e comentários que tentam deslegitimar nosso trabalho, como se falar sobre ancestralidade, dor, resistência e negritude fosse “vitimismo” ou “mimimi”. Mas seguimos firmes — porque sabemos que nossa narrativa é necessária e verdadeira.
E é justamente por isso que as conquistas ganham um brilho ainda maior. Ver jovens negros se reconhecendo nos territórios que apresentamos, ver turistas — brasileiros e estrangeiros — emocionados e impactados pelas histórias que contamos com verdade e respeito, sentir que
estamos reconstruindo uma memória coletiva com dignidade... isso é o que me move.
É nesses momentos que percebo: estamos não apenas contando uma história — estamos fazendo história.
DIASPORA.BLACK:
Na sua visão, como o afroturismo contribui para o empoderamento da população negra e a preservação cultural?
DAMIANA SILVA | FLORENCIOS TOURS & TRAVEL:
O afroturismo é um instrumento potente de empoderamento, reconstrução identitária e educação social. Ele permite que pessoas negras — historicamente invisibilizadas, sem heróis, referências ou pertencimento — se reconheçam como parte de uma narrativa rica, resiliente e profundamente criativa.
Mais do que turismo, é um ato político, social e afetivo. É também didático: um verdadeiro letramento racial. Cada roteiro é uma aula viva de história e humanidade. E o mais bonito é que ninguém sai indiferente
— seja o visitante branco ou negro, todos são convidados a refletir sobre
o Brasil que fomos, o que ainda somos e o que podemos ser.
O afroturismo também fortalece uma rede inteira de profissionais: empreendedores, artistas, guias e agentes que conduzem experiências com alma, responsabilidade e verdade. É geração de renda, sim — mas também é geração de autoestima coletiva.
É valorização de um patrimônio antes apagado, agora preservado pela oralidade, pela vivência epela emoção. O afroturismo nos devolve o direito de existir com orgulho, memória e consciência.
DIASPORA.BLACK:
O que você gostaria que mais pessoas soubessem sobre os territórios que você apresenta? Existe alguma mensagem que sempre faz questão de passar nos seus roteiros?
DAMIANA SILVA | FLORENCIOS TOURS & TRAVEL:
Gostaria que as pessoas compreendessem que os territórios que apresentamos não são apenas
“lugares históricos” congelados no tempo, tampouco cenários turísticos a serem explorados por oportunismo. Não se trata de surfar na “moda do afroturismo” com roteiros vazios de propósito, criados sem compromisso histórico, cultural ou emocional.
São espaços vivos, pulsantes, atravessados por memórias e por comunidades negras que resistem todos os dias. É preciso respeitar essa potência e entender que cada pedra, cada rua, cada símbolo carrega séculos de dor, luta, criatividade e reinvenção.
Sempre faço questão de lembrar que conhecer a história negra do Brasil é essencial para compreender o país em sua totalidade
— até porque sem o sangue, o suor, a cultura e a espiritualidade dos povos africanos e afrodescendentes, simplesmente não existiria o Brasil.
Minha mensagem é clara e constante:
Nossa história importa. Nossa cultura é rica. E é hora de ocupá-la com orgulho, respeito e consciência.
Por isso, seguimos firmes no nosso propósito:
Connecting Cultures, Creating Memories.
(Conectando Culturas, Criando Memórias.)
Turismo como instrumento de memória e futuro
Mais do que uma atividade econômica, o turismo afrocentrado é um caminho de reconexão com a história, com a identidade e com as lutas do povo negro. Ao visitar locais como o Cais do Valongo no Rio de Janeiro, os largos e terreiros de Salvador, ou comunidades quilombolas no interior do país, os visitantes têm a chance de conhecer outra narrativa. Uma que fala de dor, mas também de orgulho, resistência, espiritualidade e criação coletiva.
Os guias entrevistados mostram que o afroturismo é, ao mesmo tempo, denúncia e celebração. É educação, é pertencimento, é a possibilidade de existir com dignidade em espaços que antes negavam ou inviabilizavam a presença negra.
Quer viver essa experiência?
Acesse agora a plataforma diaspora.black
e explore os roteiros guiados por profissionais negros em todo o Brasil. Cada passeio é um convite à escuta, ao aprendizado e à valorização de nossas raízes.
Se você não encontrou o roteiro que procura, entre em contato com a gente. Podemos indicar experiências personalizadas ou criar novas rotas junto aos nossos parceiros locais.
Venha conhecer o Brasil a partir da nossa história. Com orgulho, com memória e afeto.

O afroturismo é muito mais do que uma forma de viajar. Ele representa uma oportunidade de valorizar culturas ancestrais e, ao mesmo tempo, promover a preservação ambiental em territórios historicamente vinculados à resistência negra. Quando aliado a práticas sustentáveis, torna-se uma ferramenta poderosa de desenvolvimento comunitário, educação e conexão entre visitantes e anfitriões.

O afroturismo, ou turismo comunitário afrocentrado, vai muito além do lazer. Ele é uma poderosa estratégia de empoderamento econômico, valorização cultural e fortalecimento de lideranças negras locais. Essa forma de turismo permite que comunidades negras se tornem protagonistas de suas narrativas, gerando renda e visibilidade a partir da própria cultura.

O afroturismo tem ganhado cada vez mais espaço como um segmento que valoriza a memória, a ancestralidade e a criatividade negra. Mas como ele contribui para fortalecer a identidade cultural brasileira e, ao mesmo tempo, gerar impacto econômico e social? Quais os principais desafios para ampliar a presença de vozes negras em grandes eventos e feiras de turismo? E por que é estratégico ocupar espaços institucionais e de decisão com narrativas afro-brasileiras? Para refletir sobre esses pontos, conversamos com Tâmara Azevedo, referência no setor e especialista em políticas públicas para o turismo étnico-afro e indígena. Confira a seguir: DIÁSPORA.BLACK: De que forma o afroturismo contribui para fortalecer a identidade cultural brasileira e, ao mesmo tempo, gerar impacto econômico e social para as comunidades envolvidas? TÂMARA AZEVEDO: " Vivemos em um país de origem colonial, com 55% de população negra, fruto do processo de migração forçada, propiciada pela escravização de corpos negros visando o trabalho forçado. Essa proporção chega a 82% de população negra na Bahia, onde em tese, todo turismo deveria ser afro desde sempre, mas não é. O Afroturismo é uma tomada de atitude diante da história de resistência e da cultura preservada de nossos povos, numa busca recivilizatória, capaz de dar vez e voz às comunidades, valorizando saberes e fazeres milenares, difundindo e protegendo territórios, gerando renda e preservando o meio ambiente." DIÁSPORA.BLACK: Quais são os principais desafios e oportunidades para ampliar a presença de vozes negras nos grandes eventos, feiras e conferências do setor de turismo? TÂMARA AZEVEDO: " Os desafios são imensos. Estruturar uma política pública que enfrenta diretamente o racismo institucional, por si só já é desafiador. A presença de negras e negros em um setor econômico como o do Turismo causa também certa estranheza, haja vista que o setor é dominado pelo grande capital, onde nossa presença é pontual. No entanto, essas diferenças se acentuam quando dedicamos o olhar aos investimentos feitos neste segmento a depender de cada região do Brasil. Os grandes eventos estão concentrados no eixo Rio-SP, o que dificulta sobremaneira a presença de empresários e empreendedores negros nordestinos e do norte do país. Talvez seja necessário um olhar mais direcionado ao fomento nessas regiões, de grande potencial turístico. Do ponto de vista das oportunidades, acredito no crescimento exponencial do turismo internacional e na tomada de consciência crítica racial, que tem feito aumentar significativamente o público nacional voltado para o segmento." DIÁSPORA.BLACK: Por que é estratégico ocupar espaços institucionais e de tomada de decisão no turismo com narrativas e experiências que valorizam a cultura afro-brasileira? TÂMARA AZEVEDO: "A ocupação de negros e negras em espaços de decisão é fundamental para o avanço de qualquer política pública. O sucesso dessas políticas está intrinsecamente ligado ao compromisso e sentido de pertencimento do gestor público içado para a tarefa. A construção de uma narrativa decolonial só será possível através da memória social dos povos locais, que permanece ainda em grande parte na oralidade. É um exercício antropológico que não pode ser entregue nas mãos daqueles que durante séculos foram algozes dos povos negros e indígenas desse país."

Viajar para se conectar com a cultura e memória negra da diáspora é uma experiência transformadora, mas seus impactos vão muito além da nossa autoestima, identidade e resistência. Quando nos conectamos com o afroturismo, estamos também valorizando uma rede poderosa de empreendedores que trabalham com a criatividade ancestral. O afroturismo é um forte catalisador da Economia Criativa em cada destino, mobilizando diversos segmentos como a gastronomia, passando pela moda, artesanato e música, entre muitos outros. Segmentos em que ao longo de toda nossa história têm sido fundamental para autonomia e fortalecimento econômico da população negra, além de vetor de preservação e transmissão das nossas memórias e referências ancestrais. Hoje o valor da economia criativa como vetor de desenvolvimento econômico para o País tem sido cada vez mais reconhecido, e é sempre importante demarcar o espaço da Cultura Negra nesse segmento. Nossa criatividade ancestral sempre foi um pilar importante para nossa comunidade, e por isso é importante considerarmos políticas e ações específicas de fomento à economia criativa negra, especialmente nos territórios em que nossa memória e história é pulsante. Em Salvador, por exemplo, um destino que exalta nossa ancestralidade e negritude, produtos e serviços com a nossa identidade se sobressaem como marcas internacionalmente reconhecidas, como Olodum! No Rio de Janeiro, a Pequena África se tornou o território mais visitado da cidade, e se preparar para se tornar um distrito criativo negro - considerado único no mundo - com o #afroturismo como um vetor importante para demarcar a essência da identidade e cultura do território. A partir da experiência e aprendizados nesses territórios, é fundamental enxergar a potencialidade de diversos outros territórios criativos negros, espaços em que nossas memórias, histórias e referências culturais são a base essencial da identidade. Estamos iniciando neste segundo semestre ações de mapeamento de novos territórios de memória em todo o País, como parte da iniciativa Viva Pequena África. O objetivo é levar investimentos, ações e estratégias de articulação de rede para que a população negra local seja fortalecida e beneficiária dos resultados e impactos positivos.

O Brasil abriga um dos maiores patrimônios da memória da resistência negra no mundo. Entre eles, o mais conhecido é o Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga, em Alagoas. Esse território histórico foi refúgio de diversos quilombos e palco de grandes lideranças, como Aqualtune, Ganga Zumba e Zumbi dos Palmares. Mas Palmares não é o único símbolo dessa história. Muitos outros locais, espalhados por cidades e municípios brasileiros, preservam memórias de luta e liberdade. Em Alagoas, por exemplo, existe um lugar de grande importância simbólica: a Serra Dois Irmãos, no município de Viçosa. Segundo a tradição, foi ali que Zumbi encontrou sua última morada, buscando refúgio em uma cachoeira de beleza impressionante, que até hoje preserva sua força e representação histórica. Em 2018, tive a felicidade de visitar esse local pela primeira vez, conduzido pelo Mestre Cláudio, fundador do ANAJO – uma importante organização do movimento negro em Alagoas. Mestre Cláudio, capoeirista e referência cultural, me concedeu a honra desse retorno. Desta vez, estive acompanhado também de Eusías, um grande griô e liderança do turismo no estado, além da presidente do Conselho Estadual de Igualdade Racial. Na ocasião, participamos de uma reunião com representantes da Secretaria de Turismo de Viçosa e com o secretário de Turismo de Mar Vermelho, município vizinho, que também integra a Estância dos Quilombos. Foi um encontro valioso, no qual debatemos a importância de fomentar a visitação e a valorização desse lugar. Infelizmente, poucas pessoas em Alagoas – e no Brasil – conhecem a Serra Dois Irmãos e sua relevância. É um espaço que deve ser reconhecido não apenas como patrimônio, mas como lugar de contemplação, reflexão e inspiração para novas lutas. Na Diáspora.Black, temos orgulho de apoiar iniciativas que promovem o desenvolvimento, a preservação e a visibilidade desses territórios. Acreditamos que visitar esses locais é uma forma de fortalecer a memória coletiva, ampliar a consciência histórica e alimentar o compromisso com um futuro mais justo. Continue acompanhando os nossos conteúdos e descubra mais histórias, roteiros e reflexões que valorizam a memória, a cultura e a resistência negra no Brasil e no mundo.

No dia 18 de novembro de 2015, a capital do Brasil foi atravessada por um rio de força, ancestralidade e luta. Cinquenta mil mulheres negras de todas as regiões do país ocuparam as ruas de Brasília em um movimento histórico: a Marcha Nacional das Mulheres Negras Contra o Racismo, a Violência e Pelo Bem Viver. Em uma só voz, diferentes sotaques, tons de pele, formas de fé, corpos e histórias reivindicaram um novo pacto civilizatório, onde a justiça, a equidade e o cuidado com a vida estejam no centro. Mais do que protesto, foi um manifesto de existência e esperança. A marcha foi guiada por um princípio poderoso chamado Bem Viver. Concebido pela ativista e engenheira agrônoma Nilma Bentes, esse conceito convida a imaginar uma sociedade onde as múltiplas existências convivam com dignidade, respeito e liberdade. Essa proposta defende uma convivência em harmonia com a natureza e com a ancestralidade que sustenta as lutas negras. Foi mais do que um ato político. Foi uma experiência de afeto coletivo e espiritualidade negra, que segue reverberando nas lutas e construções de hoje. Dez anos após a primeira edição, a Marcha volta a Brasília como um marco de memória, mobilização e esperança coletiva. Para acolher essa vivência de forma estruturada, segura e com propósito, a Diaspora.Black vai lançar um roteiro exclusivo na plataforma. A experiência contará com: Acompanhamento por guias mulheres negras Roda de conversa, formação e atividades culturais Logística organizada para participantes de diferentes regiões Espaços de cuidado, conexão e espiritualidade Mais do que um roteiro, será uma jornada afetiva e política, conectada com o que há de mais potente nas caminhadas das mulheres negras. Acesse diaspora.black e acompanhe o lançamento. Porque marchar é também viajar com propósito.

Em parceria com o Instituto BEI, a Diaspora.Black está desenvolvendo uma jornada transformadora ao lado de mulheres quilombolas da região de Belém, no Pará. Essas mulheres integram o Programa de Qualificação para a COP 30, e a proposta é criar espaços seguros, afetivos e formativos onde possam desenvolver suas potências, fortalecer a autoestima e planejar caminhos de futuro.

No dia 25 de julho, celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A data foi criada em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, realizado na República Dominicana. Desde então, tornou-se um marco de visibilidade, reconhecimento e mobilização em torno das lutas, conquistas e potências das mulheres negras da região. Mais do que uma data comemorativa, esse é um momento de reflexão sobre desigualdades estruturais, apagamentos históricos e os desafios enfrentados por milhões de mulheres negras nos territórios que ocupam. Ao mesmo tempo, é um convite a celebrar suas lideranças, expressões culturais, saberes ancestrais e contribuições para a transformação das sociedades em que vivem. Na Diaspora.Black, reconhecemos que essas histórias não podem mais ser silenciadas ou marginalizadas. O turismo, quando guiado pela perspectiva afrocentrada, torna-se um instrumento de valorização dessas trajetórias. Por meio das experiências que oferecemos, buscamos visibilizar mulheres negras que são lideranças comunitárias, guardiãs da memória, empreendedoras culturais, artistas, guias e educadoras.

Viajar é uma forma de se conectar com o mundo. Quando essa conexão é guiada pela ancestralidade, ela ganha profundidade, significado e senso de pertencimento. O afroturismo é uma oportunidade de enxergar o território brasileiro pelas lentes da população negra, celebrando memórias, tradições e histórias de resistência que moldaram o país. Na Diaspora.Black, você encontra experiências pensadas para fortalecer essa reconexão com a cultura negra. Nossa plataforma reúne roteiros em diferentes regiões do Brasil, conduzidos por guias especializados e comprometidos com o resgate e a valorização de territórios quilombolas, terreiros, blocos afro, rodas de samba, culinária ancestral e muito mais. Se você está planejando uma viagem afrocentrada, confira as dicas que preparamos para te ajudar a construir um roteiro com propósito.

No Brasil, o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, celebrado em 3 de julho, marca uma importante mobilização por igualdade, reparação histórica e valorização da memória da população negra. Essa data é um convite à reflexão sobre os caminhos para uma sociedade mais justa, diversa e antirracista. O turismo afrocentrado tem se mostrado uma dessas ferramentas de transformação. Ao revisitar territórios marcados pela história da população negra, o afroturismo promove o reconhecimento de trajetórias que foram silenciadas e, ao mesmo tempo, fortalece a autoestima coletiva. Cada roteiro se torna uma oportunidade de reconexão com as raízes africanas, com os saberes ancestrais e com as contribuições negras que moldaram o Brasil em diversas áreas, como a religiosidade, a arte, a culinária e a arquitetura. Mais do que destinos, o turismo afrocentrado oferece experiências. Ele convida a caminhar por lugares como o Pelourinho, o Bairro da Liberdade ou Madureira , não como simples visitantes, mas como herdeiros de histórias vivas. Em cada trajeto, resgatamos memórias de resistência, celebração e pertencimento. Como destaca Carlos Humberto, CEO da Diaspora.Black: “O turismo é uma das formas mais extraordinárias de promover o conhecimento de lugares, pessoas, histórias, narrativas, e esse conhecimento parte da ideia da pessoa experimentar os lugares e esses lugares nunca mais saírem dela. E essa ferramenta é uma ferramenta poderosa de combate ao racismo. É uma ferramenta poderosa para transformar olhares e pessoas e trazer inspirações de superação de vida e da luta contra o racismo.” É nesse reencontro com a ancestralidade que nasce a potência transformadora. Ao reconhecer e valorizar a cultura negra, o afroturismo contribui para o enfrentamento do racismo estrutural e abre espaço para o protagonismo de comunidades negras em todo o país. Em um contexto em que vozes negras ainda são muitas vezes silenciadas, escolher viajar com propósito se torna também um gesto político. É afirmar que a história do Brasil é profundamente negra e merece ser celebrada com respeito, orgulho e visibilidade. Quer viver essa experiência e fortalecer essa luta com a gente? Acesse diaspora.black e conheça roteiros que celebram a negritude, a ancestralidade e a potência do nosso povo.