A presença da pauta racial nas negociações climáticas globais tem sido resultado de anos de mobilização, articulação política e pressão da sociedade civil. Na COP30, realizada em Belém, esse debate ganhou ainda mais centralidade ao conectar justiça climática, racismo ambiental e a valorização dos povos e comunidades tradicionais como agentes fundamentais na construção de soluções sustentáveis.
Nesta entrevista, Carlos Humberto, da Diaspora Black, conversa com Rachel Barros de Oliveira, Secretária Executiva do Ministério da Igualdade Racial, sobre os avanços, desafios e conquistas da participação brasileira na COP30. Confira a seguir:
Carlos Humberto - Diaspora Black: Eu gostaria de saber, na sua visão, como a pauta da igualdade racial entrou na COP e como você está saindo daqui a partir dessa nossa participação na COP30.
Secretária Rachel Barros: “Essa COP teve muitos desafios. E um dos desafios foi garantir a permanência do termo "afrodescendente" nos processos de negociação e nos documentos oficiais dessa COP. Mas a gente teve muito apoio e continua tendo da sociedade civil para fazer esses debates.
O Ministério da Igualdade Racial também, em seus planos de aceleração de solução, nos debates que a gente realizou, eu particularmente participei de debates sobre racismo ambiental, de debates sobre meninas e mulheres afrodescendentes, a gente fez questão de reforçar a necessidade da manutenção desse termo.
E acho que um ponto de avanço importante é que a gente sai da COP30 com a Carta de Belém sobre o racismo ambiental. É um avanço importante, porque é uma normativa que vai garantir que esse tema volte nas próximas COPES. Então, o meu sentimento é de que a gente caminha. Mas a gente ainda tem muito que caminhar. E a gente só caminha com a força da sociedade civil e com a importância de a gente trazer o debate do racismo ambiental para o centro das negociações.
Acho que ter criado agora o Círculo dos Povos conjuntamente com MPI, MMA e MDA também foi muito central para nós, porque foi a oportunidade de ampliar as vozes das populações marginalizadas, vulnerabilizadas, dos povos e comunidades tradicionais para pautar esse debate. Então, acho que a gente avança, mas a gente já tem muito que caminhar.”
Carlos Humberto - Diaspora Black: O Círculo dos Povos foi um espaço super estratégico e importante e foi o único espaço que recebeu um debate sobre afroturismo, a partir da perspectiva de como o afroturismo pode ser uma estratégia potente de combate ao racismo ambiental e de inclusão na população negra no mercado do turismo.
Como você vê a atuação do racismo ambiental como uma possibilidade de estratégia, secretária?
Secretária Rachel Barros: “Olha, eu acho que trabalhar a pauta do afroturismo nesse debate sobre as mudanças climáticas é muito central. A gente tem as populações tradicionais com suas culturas, com a sua forma de existir e com a dependência do meio ambiente para preservar a biodiversidade do nosso país e, por que não, atrelar todo esse saber, toda essa tradição ao processo de geração de emprego e renda, a um processo que, de fato, valoriza esses saberes e tradições para a gente avançar nessa pauta. Então, por exemplo, no MIR, no Ministério da Igualdade Racial, o decreto que nós temos, Rotas Negras, que é voltado para a valorização do afroturismo, ele está dentro do plano clima de combate ao racismo ambiental. Então, para nós, é uma dimensão central.
E eu acho que a COP, ela tem esse papel de mostrar que o Brasil tem uma ampla diversidade de biomas, mas também de povos que ocupam esses biomas. Esses povos possuem cultura, possuem tradições, possuem saberes, e esses saberes geram renda e geram transformação. Tudo isso é sustentabilidade, tudo isso é democracia, tudo isso é participação e adaptação. Então, eu acho que é central que a gente possa apoiar a pauta do afroturismo no debate sobre mudanças climáticas.”